Crítico da ideologia esquerdista, o cientista político João Eigen reclama do que chama de “mentalidade revolucionária. De acordo com ele, trata-se de movimento que gera cínicos com viés voltado à criminalidade, sendo pessoas mais propensas a “cometer crimes como assassinato político”.
Advogado e mestre em ciência política pela Universidade Federal de Santa Catarina, Eigen cita o assassinato de Charlie Kirk. Ativista conservador, Kirk foi assassinado no último dia 10, ao ser baleado no pescoço por um disparo de rifle enquanto conversava com estudantes da Universidade Vale de Utah, nos Estados Unidos.
“A direita, geralmente, convive com um senso de moralidade normal e tem uma falsa visão do esquerdista como uma pessoa normal e que tem os mesmos interesses democráticos, o que é um erro fatal”, afirma Eigen. “A mentalidade revolucionária é desumana por definição, e conforme mais quadros de militantes foram se radicalizando maiores serão as chances de assassinatos políticos acontecerem.”
A Oeste, o cientista político também analisa a disseminação de expressões como “extrema direita” e “fascista”. Eigen explica que esse tipo de postura é exercida pela esquerda de modo centenário, com destaque ao ditador Josef Stalin, que comandou a União Soviética de 1924 a 1953.
“Quando o Comintern de Stalin decidiu, já nos anos de 1922-23, que o fascismo era uma consequência do capitalismo, outros comunistas começaram a procurar explicações mais profundas desse fenômeno”, explica João Eigen. “Pensadores como Peter Nathan e Wilhelm Reich utilizaram a psicanálise para engendrar uma pseudociência que dizia que um indivíduo desenvolve uma ‘personalidade protofascista’ devido à sua criação familiar conservadora, cristã, tradicional, que reprime seus instintos sexuais etc., e que isso torna todos propensos a se tornarem fascistas.”
Na entrevista a Oeste, João Eigen também avalia o trabalho da imprensa e sugere o que pode ser feito por políticos de direita. A seguir, os principais trechos da conversa.
Assassinatos de Charlie Kirk nos EUA, Fernando Villavicencio no Equador (2023) e Miguel Uribe Turbay na Colômbia (2025). O que explica esses e outros crimes contra políticos de direita?
A esquerda sempre foi muito mais unida e motivada a cometer crimes políticos em nome da causa revolucionária. Em verdade, a mentalidade revolucionária já possibilita que os militantes se eximam de participar da moralidade humana normal, pois se acham os arautos de uma sociedade futura de justiça e paz, e, portanto, não podem ser julgados pela “moralidade burguesa” do tempo presente. Isso os torna cínicos e muito mais propensos a cometer crimes como assassinato político. A direita, geralmente, convive com um senso de moralidade normal e tem uma falsa visão do esquerdista como uma pessoa normal e que tem os mesmos interesses democráticos, o que é um erro fatal. A mentalidade revolucionária é desumana por definição, e conforme mais quadros de militantes foram se radicalizando maiores serão as chances de assassinatos políticos acontecerem.


“Extrema direita”, “radical”, “rato”, “animal”, “fascista” e “neonazista”. Por que setores da esquerda usam esses e outros termos para tentar desumanizar quem pensa diferente?
É uma tática de luta política oriunda de uma visão distorcida da mentalidade revolucionária, mas tem uma tradição intelectual bem conhecida e que remonta há pelo menos um século. Quando o Comintern de Stalin decidiu, já nos anos de 1922-23, que o fascismo era uma consequência do capitalismo, outros comunistas começaram a procurar explicações mais profundas desse fenômeno. Pensadores como Peter Nathan e Wilhelm Reich utilizaram a psicanálise para engendrar uma pseudociência que dizia que um indivíduo desenvolve uma “personalidade protofascista” devido à sua criação familiar conservadora, cristã, tradicional, que reprime seus instintos sexuais etc., e que isso torna todos propensos a se tornarem fascistas.
Como esse pensamento ganhou o mundo?
Essa teoria foi depois espalhada pelo mundo universitário anglo-americano e europeu no pós-Segunda Guerra por teóricos como Theodor Adorno e sua teoria da “personalidade autoritária”. Quem são os “fascistas”? Os tradicionalistas, conservadores e patrióticas — justamente as pessoas que atualmente são a base eleitoral do Partido Republicano. Portanto, quando um esquerdista te chama de “nazifascista”, ele está ecoando essa tradição pseudocientífica que culpa o “capitalismo” e os valores tradicionais e religiosos como engendradores de personalidades fascistas — e anticomunista.
Absolutamente pode. O que nos causou espanto não é, infelizmente, nada de novo. Esse tipo de mentalidade assassina e desumana vem sendo cultivada há mais de meio século nos meios acadêmicos ocidentais. Não é coincidência que a influência desse tipo de gente em postos acadêmicos e governamentais tenha causado um aumento significativo das taxas de violência urbana em todo o Ocidente. Eles querem destruir o mundo do capitalismo ocidental e da sociedade cristã, e a influência dessa mentalidade que agora se espalha pelas redes sociais é extremamente deletéria para uma sociedade que tenta se manter moralmente sã. O impacto é a tal da “polarização e radicalização”, mas isso não é um problema per se. O problema é quem iniciou a radicalização e polarizou a sociedade; uma reação à altura não é o problema. Se radicais polarizaram a política, então apenas uma reação igualmente forte poderá sanar o problema.
No Brasil, políticos de direita têm denunciado ameaças de morte. O senhor acredita que há o risco de o Brasil registrar um caso similar ao de Kirk?
Sim, acredito que há esse risco. O Brasil tem a infelicidade de ser extremamente influenciável por modas intelectuais gringas. Essa radicalização ideológica não apenas seguiu a tendência mundial, mas até mesmo a supera em vários sentidos. Aqui, diferentemente dos Estados Unidos, o governo no poder compartilha dessa mentalidade e até a fomenta, assim como a nossa academia. Exorto a todos os políticos e figuras públicas da direita a tomarem extremo cuidado, mas não a ponto de inviabilizarem os trabalhos. Tenham sempre em mente: um comunista ou antifa radical não se importa em matar uma pessoa ou sequer ir para a cadeia. Isto, na cabeça dele, será redimido pelo sucesso da revolução. Eles têm tudo a ganhar e nós tudo a perder com um assassinato político.
O que políticos e pensadores de direita, no Brasil e no mundo, devem fazer para evitar atentados e assassinatos?
Naturalmente, ampliarem o escopo do aparato de proteção e segurança pessoal. Mas ainda mais crucial: criar uma rede de inteligência e um quadro de pessoas particularmente radicais, contendo informações como onde trabalham, com quem operam, quem os financia etc. Também é preciso começar a preparar uma militância mais consciente da necessidade de praticar o cancelamento e o boicote em todos os sentidos. Deve haver uma pressão generalizada e eficiente sobre todas as instituições e empresas que acolhem e fomentam pessoas com esse tipo de mentalidade assassina. A luta por ocupação de espaços é essencial.
Parte da análise de João Eigen consta na reportagem “Vítimas da intolerância”. É a reportagem de capa da Edição 288 da Revista Oeste.
“O assassinato de Charlie Kirk é mais um caso de ódio que desumaniza os que ousam criticar a esquerda.” Leia a reportagem de Anderson Scardoelli na Revista Oestehttps://t.co/2lmAIt9ii4
— Revista Oeste (@revistaoeste) September 20, 2025
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